Entendendo o Comperj.
Um sonho político, uma bravata partidária, um marketing para
eleição de Dilma Roussef, seja qual a crítica que dê ao Comperj o fato é que em
2006, quando foi anunciado, era uma proposta oportuna, uma estratégia inteligente
e um projeto produtivo, considerando o quadro internacional da época. A
Petroquímica, com os EUA e a China em expansão, era a poule de 10 brasileira, principalmente com a descoberta da
abundância de petróleo do pré-sal, quadro drasticamente alterado em 2013 pela desaceleração da China e da descoberta de imensa reserva de Xisto nos EUA, um petróleo não convencional, um boom energético que diminuiu a dependência americana do petróleo.
A planta construtiva original do projeto previa a utilização
do petróleo pesado do Campo de Marlim, localizado na Bacia de Campos, e além da
unidade de refino, seriam construídas uma unidade de petroquímicos básicos de
primeira geração (eteno, benzeno, p-xileno e propeno) e seis unidades de
petroquímicos de segunda geração. As principais resinas termoplásticas a serem
produzidas pelas unidades de petroquímicos de segunda geração serão
polipropileno (850 mil toneladas/ano), polietileno (800 mil toneladas/ano) e
politereftalato de etileno (600 mil toneladas/ano).
Passada a euforia do anuncio a Petrobras, na época dominada
pelo governo petista e colocada a serviço do projeto partidário de Lula, deu início as obras do Comperj, em 31 de março de 2008, quw seria um dos maiores complexos
petroquímicos do mundo se não fosse a realidade diferente que se mostrou logo após.
Previsto para funcionamento em 2014, mesmo com anúncios animados de ampliação
ainda no projeto, o Comperj naufragou logo após, em 30 de setembro de 2013,
quando deu baixa em seu CNPJ.
“Sobrepreços, paralisações, greves, mudança de finalidade...
Anunciado em pelo ex-presidente Lula como um pólo que revolucionaria a região
de Itaboraí, virou uma refinaria. Em vez de fabricar três tipos de plásticos,
ia produzir derivados de petróleo, como gás de cozinha e óleo diesel” analisou
o site Congresso em Foco, em junho de 2014.
Na época a Petrobrás reconheceu o problema pontuando “Questões
relativas a licenciamento ambiental, greves e processos de desapropriações para
implantação do acesso de equipamentos especiais ocasionaram prazos e custos
adicionais do empreendimento” complementando que a situação fora agravada por
variação cambial, reajustes de contratos e replanejamento das atividades.
E daí para frente às notícias sobre a obra praticamente se
reduziram a denúncias. Em 2009 o TCU - Tribunal de Contas da União - já havia
conseguido indícios do cartel de empreiteiras que a Petrobras financiava – mais
tarde delatadas na Operação Lava Jato como pagadores de propinas a políticos e
partidos – e recomendou a paralisação de repasses de dinheiro para o Comperj.
Mesmo assim, Lula, então presidente, liberou repasses de R$
13,1 bilhões a quatro obras denunciadas da Petrobras, entre elas o Comperj, apesar
de decisão do Congresso de barrar os repasses aos empreendimentos em razão de
diversas irregularidades detectadas pelo TCU. E assim caminhava a obra em
Itaboraí cujo orçamento inicial, que era de US$ 6,5 bilhões, dobrou e teve o
início das atividades empurrado de 2012 para agosto de 2016.
Em julho de 2015 o Comperj sofreu o que foi talvez o seu
maior golpe. A Braskem, após estudos sobre adição de sua capacidade produtiva,
eliminou como opção o projeto da Petrobras em Itaboraí, preferindo investir em
seu projeto no município de Duque de Caxias. "Não é que ele (projeto do
Comperj) não existe mais. Em algum lugar os estudos estão arquivados. Talvez
num futuro faça sentido econômico, mas nosso empenho é mais para crescimento de
capacidade em Duque de Caxias" comentou a Braskem na época.
A Petrobras, em julho do ano passado, através do seu
Conselho de Administração desenhou o novo Comperj aprovando a reavaliação do
projeto, determinando a continuidade das atividades de implantação das unidades
associadas à Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) que faz parte do
Projeto Integrado Rota 3 que contempla também o Gasoduto Rota 3, que completam
a infraestrutura de escoamento e processamento de gás natural do pólo pré-Sal
da bacia de Santos.
A estatal aprovou ainda a postergação dos investimentos e
preservação dos equipamentos das demais unidades da Refinaria Trem 1 até
dezembro de 2020 e orientou que continuem os esforços em busca de parceiros
para dar continuidade aos investimentos, mas os projetos da Refinaria Trem 2 e
da Unidade de Lubrificantes do Comperj estão cancelados.
Em setembro de 2016, no entanto, a Petrobras colocou um
ponto final no Projeto Comperj, anunciando em seu Plano de Negócios 2017 – 2021
a retirada “integral” da estatal dos setores de produção de biocombustíveis,
distribuição de GLP (gás de cozinha), produção de fertilizante e das
participações da companhia na petroquímica para, segundo a empresa, “preservar
competências tecnológicas em áreas com maior potencial de desenvolvimento”.
A desistência da petrolífera, no entanto, não significa a morte
do projeto da refinaria. Recentemente o seu presidente, Pedro Parente, admitiu
quase que como um anúncio, que a Petrobras discute com a chinesa CNPC – China
Nacional Petroleum Corporation - a construção
de uma nova refinaria, necessidade da Petrobras prevista em vários
estudos de pelo menos já há três anos. Considerando a infraestrutura do Comperj, os
indicativos do mercado apostam nessa proposta e dão como certa a nova refinaria
em Itaboraí, mesmo que não exista acordo com os chineses, especulando que
outras operadoras de petróleo já se mostraram interessadas no Comperj.
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